quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ásia Central - Karakalpakstan



Foi, de facto, a primeira missão a "sério" que fiz ao Karakalpakstan, República Autónoma do Usbequistão.
Estávamos em Maio de 2001 e era preciso identificar uma série de projectos a incluir no programa de acção financiado pela Comissão Europeia de 2002 para os países da Ásia Central. Especificamente para aquela região longínqua tinham sido atribuídos apenas 2 milhões de euros, sendo a saúde pública eleita como sector prioritário. Já naquela altura convinha ter em conta a proximidade da catástrofe (criada pelo Homem!) do Mar de Aral a partir dos anos setenta em plena União Soviética.
Assim que o Tupolev da Uzbek Airlines aterrou no aeroporto de Nukus (capital da República Autónoma do Karakalpakstan), depois do piloto anunciar na aproximação à pista que estavam 45° C à sombra, o Ministro da Saúde Dr. Damir Babanazarov convidou-me a entrar numa pequena carrinha que ocasionalmente servia tanto para transporte de pessoal como de âmbulância. Éramos 5 passageiros a bordo, mais o motorista. Sem transição, dirigimo-nos para norte de Nukus, na direcção de Chimbay, região pertencente ao Mar de Aral e não longe do antigo porto de pesca soviético de Muynaq. Ao calor dentro e fora da carrinha juntava-se o fato e a gravata que, naquela primeira visita oficial (a solo e em representação da Comissão Europeia) eram de rigor. Mas com boa vontade e acima de tudo com espírito de combate e de cooperação tudo se suporta. Em Chimbay, no meio da maior aridez jamais vista por mim (até essa altura!) cruzei-me com o homem que escolhi como "cabeça de cartaz" para as minhas exposições que seguiram de 2002 até 2009. Desconheço que idade teria, mas era certamente mais novo que eu. Só que a vida já lhe tinha dado a entender que, naquelas paragens o tempo deixa marcas fortes na pele. Das várias missões que fiz àquela região até finais de 2004 nunca mais me cruzei com este homem. Gostaria de ter notícias dele. Espero que um dia alguém lhe diga que algures na Europa foi cabeça de cartaz.
Já quanto ao Dr. Damir Babanazarov, deixou-nos passados algumas semanas após este nosso encontro, vítima de enfarte. Era uma pessoa afável, inteligente e com um coração do tamanho do mundo. A mim, deixou-me um legado de valor inestimável: a grande amizade da sua esposa Marinika Babanazarova. Marinika é conservadora e actual directora do Museu de Nukus. É uma pessoa adorável, com uma cultura fora do vulgar e - felizmente! - reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho e dedicação à causa da arte karakalpak e do espólio deixado e recolhido pelo seu Mestre Savitsky.

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