quarta-feira, 19 de março de 2014


O MUNDO DE ONTEM E A SOCIEDADE DE HOJE

Livros e edições: o que temos e do que precisamos

«Je n’ai jamais attribué tant d’importance à ma personne que j’eusse éprouvé la tentation de raconter à d’autres les petites histoires de ma vie. Il a fallu
beaucoup d’événements, infiniment plus de catastrophes et d’épreuves qu’il n’en échoit d’ordinaire à une seule génération, avant que je trouve le courage de commencer un livre qui eût mon propre moi pour personnage principal ou, plus exactement, pour centre.»

É assim que começa o prefácio de “Le monde d’hier, souvenirs d’un européen” escrito em 1941 por Stefan Zweig (título original: “Die Welt von gestern».

E, mais à frente ainda no prefácio, S. Zweig acrescenta: “Il me paraît de mon devoir de rendre témoignage de cette vie tendue, dramatique, riche en surprises qui aura été la nôtre car, je répète, chacun a été témoin de ces prodigieuses transformations, chacun a été forcé d’être témoin.»

Hoje mesmo, mexendo e remexendo na estante que quase se verga com o peso do pó sobre os livros, encontrei o livro que procurava há vários meses em Portugal, na versão portuguesa, mas que eu desconhecia ter em casa, em versão francesa.


A obra de Stefan Zweig tem vindo a ser novamente publicada em Portugal. Há poucos meses comprei e li de uma assentada (por infeliz coincidência nas algumas horas que tive que esperar por tratamento no serviço de urgências num hospital belga...) o livro recentemente editado “Novela de xadrez” publicada pela editora Assírio & Alvim em outubro de 2013. Fiquei esperançado que seria desta que iria encontrar a reedição de “O Mundo de Ontem”. Grande decepção: ainda não é desta que o livro – praticamente esgotado – se pode ler em português. E se há livros que nos fazem falta, em particular nesta época de turbulência e de transformação que atravessamos!


Stefan Zweig morreu no Brasil em 23 de Fevereiro de 1942. Triste celebração para daqui a uns dias, mas talvez grande argumento para a reedição, em especial se tentarmos “ler” a realidade e a transformação da sociedade que é a nossa com a experiência que nos foi legada por Stefan Zweig.

E porque muito se edita, muitos livros se compram, sem eu ter a certeza de que se lêem na mesma proporção com que se editam tantos livros, outro caso infeliz de perda de edição é o do escritor francófono de origem egípcia Gilbert Sinoué que hoje, 18 de Fevereiro, festeja os seus 67 anos. Depois de alguns dos seus livros terem sido traduzidos para português e editados em Portugal pela “defunta” DIFEL, os lusófonos que preferem lê-lo em português em vez do francês vêem-se privados de acompanhar o que de melhor G. Sinoué tem escrito, em especial nos últimos dois ou três anos. Está para sair o seu último romance “La nuit de Maritzburg” (lançamento previsto para final de Março), mas outros romances deste enorme escritor fazem falta no panorama literário português. Para quando a decisão das grandes editoras de devolverem aos leitores portugueses um dos grandes escritores da nossa época? Ficamos à espera!

Bruxelas, 18 de Fevereiro de 2014

Parabéns Gilbert Sinoué.

Félicitations mon cher ami Gilbert!!!

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